terça-feira, fevereiro 13, 2018

ENTRUDO

Os Caretos - grupos de jovens, todos do sexo masculino, que no Natal e também no Entrudo, percorrem as ruas da sua povoação trajados com os fatos coloridos que aqui se podem ver, batendo em raparigas com bastões compridos e/ou com chocalhos, para as fertilizar... Genericamente, costuma dizer-se que se trata dum elemento folclórico de raiz arcaica céltica; muito sinceramente, vejo aqui uma semelhança quase absoluta com a Lupercal romana, e nem sequer sou daqueles que quer negar o contributo céltico para a identidade étnica portuguesa, pelo contrário...



O verdadeiro Carnaval português é assim, caros leitores - uma época do ano marcada pela fantasia invernal das máscaras e do segredo, do deboche e da troça, quando se pode dizer tudo o que se quiser sobre quem se quiser, como é disso exemplo a tradição, existente em numerosas aldeias portuguesas, de haver grupos de jovens mascarados, usualmente caretos, a declamar publicamente versos de mofa sobre cada uma das pessoas da população local, satirizando vícios e torpezas.
É também um tempo de primeiras boas-vindas à Primavera, motivo pelo qual costuma haver uma ou mais figuras andrajosas («a velha», ou «o velho») a representar o Ano Velho, que urge expulsar e substituir pelas forças da Vida, pujantes e joviais. Daí os numerosos «enterros» que por este País se celebram nesta altura do ano - o «enterro do velho», ou o «enterro do galo», «enterro do Entrudo», «enterro do João», bem como o «enterro do bacalhau», o qual por vezes é afogado ou despedaçado a tiro; de salientar também os combates Inverno/Verão, teatralizados com batalhas carnavalescas entre jovens floridos e figuras andrajosas, demoníacas ou decadentes.

Conforme diz o antropólogo Aurélio Lopes em «A Face do Caos - ritos de subversão na tradição portuguesa» (Garrido Editores), página 139 e seguintes:
Muitas destas paródias herdaram a simbologia, em tempos passados usual, da destruição ritual do símbolo do ano e do tempo que terminam, personificado muitas vezes no Inverno que declina. Para aí remente, num contexto secular, toda a panóplia de «velhos», «comadres», «judas» e «intrudos» que, dando corpo a identificações e funcionalidades modernas, incidem numa raiz ancestral, niilista e regeneradora.
Algumas vezes são bonecos de palha antropomorfos, figuras vestidas ou não de roupas velhas, que se expõem publicamente, afogam, queimam, enforcam, despedaçam ou enterram nos grandes festivais de Inverno quem em tempos se realizavam e esporadicamente ainda se realizam, um pouco por todo o País.

De acordo com o mesmo autor, outro dos elementos destas celebrações caóticas eram as «batalhas» entre sexos - grupos de rapazes contra grupos de raparigas, cada qual procurando queimar o boneco de palha do oponente, enquanto teciam versos jocosos e insultuosos. Vale a pena exemplificar com algumas das quadras ouvidos no Alto Alentejo:
«As Comadres já morreram
Dentro duma caixinha
Vieram os ratos
Rataram-lhes as passarinhas


Resposta das raparigas:
«Os Compadres já morreram
Dentro dum baú
Vieram os ratos
Rataram-lhes o cu



Outras:
«Vivam as senhoras comadres
Encerradas na cortiça
A velha alça a perna
O velho mete a chouriça


E estas, não já no Alentejo, mas no norte da Beira Alta, no famoso Entrudo de Lazarim:
«Rapazes de Lazarim
Sois todos uma canalha
Com o fumo do tabaco
No corpo tudo vos falha
»

(...)
«E ainda te digo mais
Meu cabeça de avelã
Agarras-te muito à gorda
Mas tu gostas é da irmã
»

(...)
«Tende cuidado com o burro
Que ele é muito abonado
Se a dele não chegar
Tendes aqui mais um bocado»

(...)
«Vais então ter casamento
Até que enfim sais de casa
Pois já há muito tempo
Tens a passareta em brasa


Etc...

A propósito de Lazarim, é realmente digno de leitura o relato que uma norte-americana faz da sua visita a Lazarim durante esta quadra festiva e observar o seu maravilhamento perante uma festa carnavalesca que nada tem a ver, na forma, com a do Brasil, mas que, reconhece a autora, está na sua raiz e mergulha a sua origem na ancestralidade céltica de Portugal.

Para uma panorâmica mais abrangente do Carnaval português, dê-se uma vista de olhos a este magnífico site de recolha etnográfica.










3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Oh pá, olha que só um dos liks leva a algum lado.

13 de fevereiro de 2018 às 09:51:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

E esta, será verdade?
http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2018-02-10-Olhos-azuis-cabelo-encaracolado-escuro-e-pele-escura.-Eram-assim-os-primeiros-britanicos

13 de fevereiro de 2018 às 09:52:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

O verdadeiro Portugal! qual porcarias dos trópicos.

13 de fevereiro de 2018 às 16:36:00 WET  

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