sexta-feira, dezembro 08, 2017

SOBRE O PORTUGUÊS DE PORTUGAL E O DO BRASIL

A Sputnik Brasil falou com a professora catedrática portuguesa Inês Duarte, do Departamento de Linguística Geral e Românica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, para saber se há realmente possibilidade de separação linguística entre Portugal e o Brasil.
Não é segredo que no Brasil já começaram a ouvir-se vozes de que o português brasileiro se distinguiu demasiadamente do português europeu. A linguista Duarte acusa o purismo na linguística brasileira que depois foi substituído por modernismo radical:  "O século XIX no Brasil, sobretudo os últimos 50 anos do século XIX, é um tempo em que aparece um purismo em relação à língua. Há intelectuais brasileiros a pedirem que os brasileiros falem a língua de Camões. Quando digo a língua de Camões não é metaforicamente, é literalmente, isto é, que vão aos textos do século XVI, falar como supostamente aqueles escritores falavam, o que é completamente idiota."
Para Inês Duarte, uma das consequências desse purismo é a atitude que os modernistas brasileiros têm em relação ao idioma apostando na distinção como se fossem idiomas diferentes: "O que acontece é que o modernismo insiste na especificidade do brasileiro. Curiosamente, o que nós temos depois, nos anos 70 e 80, são linguistas que, ao contrário dos antigos gramáticos (o Brasil teve gramáticos surpreendentes, melhores que os Portugueses, durante o século XX, há um espectacular, Manuel Said Ali). O que acontece é que a nova geração de linguistas brasileiros dos anos 70 e 80 entram nessa onda do modernismo, eu penso que em alguns casos não como afirmação da cultura brasileira, é mais por desconhecimento do que era o Português falado em Portugal", afirma. 
Porém, agora tenta-se moderar a situação e há linguistas brasileiros a entenderem que as duas variedades do idioma português não são afinal tão diferentes como se pensava, acredita a professora. Isto já cria condições para uma cooperação maior entre Portugal e o Brasil na área linguística: "Agora decidir que as duas variedades são línguas diferentes tem mais a ver com questões políticas e económicas do que com questões linguísticas", disse.
Porém, este cenário é ruim para a linguista portuguesa: "Se insistimos em dizer que há duas línguas, perdemos no panorama mundial, porque no limite iríamos ter um português de Angola, outro de Moçambique etc… O que é mais importante para nós, é dizer que somos uma língua, como dizem os Ingleses, os Americanos ou os de Singapura, ou dizer que temos não sei quantas linguazinhas?"
E os outros?
Obviamente, a situação entre português brasileiro e português europeu não é a única. Há outros exemplos de diferenças até mais explícitas que não resultam em separação linguística por razões políticas e económicas, explica a professora Duarte: "Se olharmos para o que se passa nas línguas dos antigos impérios coloniais, o Inglês, o Espanhol, o Francês, aquilo que verificamos é que, por exemplo, as diferenças entre o francês falado em França ou no Canadá são gigantescas, mas ninguém diz que o francês do Canadá não é francês. As diferenças entre o espanhol falado na Península Ibérica ou em São Domingos [capital da República Dominicana] são gigantescas, mas ninguém diz que há dois espanhóis." 
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Fonte: Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: https://br.sputniknews.com/cultura/2017120810033924-portugues-brasil-portugal-lingua-separacao/

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Desde que a unicidade do Português a nível mundial não contribua para a bastardização da língua falada em Portugal, através do acordo ortográfico de 1990 e/ou outras merdices, tudo bem... caso contrário, mais vale que se separem os idiomas. Querer forçar uma similitude através de artificialismos é nada mais que um vestígio do Império em versão intelectualóide, a mania das grandezas imperiais em versão linguística.