quarta-feira, março 29, 2017

JUVENTUDE NEGRÓIDE EM PORTUGAL REJEITA SOCIEDADE PORTUGUESA

Tenho quase a certeza que já aqui publiquei este artigo, que já tem quase quinze anos, é portanto anterior à existência do blogue, mas, seja como for, aqui fica o texto, para eventual futura referência:

O primeiro grande inquérito aos jovens negros que vivem em Portugal explica por que é que a cor da pele divide os portugueses. Dos 400 entrevistados, e apesar de a maioria ter nascido ou viver no país há mais de dez anos, só 16 afirmaram identificar-se com Portugal. Os autores do estudo falam em "novos problemas".
Um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, co-financiado pela Secretaria de Estado da Juventude, concluiu que os jovens negros não se identificam com os Portugueses, apesar de a maioria já ter nascido (26 por cento) ou viver há mais de 10 anos (25 por cento) em Portugal. Dos jovens inquiridos, com idades entre os 15 e os 29 anos, apenas quatro por cento afirmou rever-se na sociedade portuguesa branca.
A identificação com o "país de origem" (dos entrevistados e dos seus pais) foi a mais referida de entre a amostra, mesmo pelos inquiridos de nacionalidade portuguesa ou com dupla nacionalidade. A segunda identidade eleita foi "África", seguindo-se "luso-africano". A identificação com "português", enquanto identificação primária, por sua vez, foi apenas preferida por 16 dos 400 entrevistados, sendo a última escolha.
Dos 400 entrevistados, 41 por cento têm nacionalidade portuguesa, 27 por cento cabo-verdiana, 15 por cento angolana, sete por cento são guineenses, e três por cento têm dupla nacionalidade.
Segundo o coordenador do trabalho - intitulado "Simetrias e Identidades: Jovens Negros em Portugal" e que irá ser publicado em livro brevemente -, os dados do estudo "são muito surpreendentes e preocupantes". Jorge Vala considera mesmo "urgente" que o Estado faça alguma coisa no sentido de integrar este sector da população. "Ao lermos este relatório, percebemos que há todas as condições para haver efeitos disruptivos tremendos", alerta o investigador.
Os resultados do inquérito revelam a "reivindicação de uma identidade cultural específica" por parte dos jovens negros, associada a um "forte" sentimento de discriminação, tendente a aumentar a separação com a sociedade portuguesa branca. "Sabemos que estes mesmos jovens procuram uma distintividade cultural acentuando as diferenças. Do confronto destes dois fenómenos podem decorrer novos problemas", sublinha o estudo.
Estes indicadores de "clivagem social" aparecem ligados a uma "elevada insatisfação e frustração" com a vida no seio da sociedade portuguesa. Oitenta por cento destes jovens considera que os negros se encontram privados, por exemplo, de bens económicos, quando se comparam com "a generalidade do grupo dos portugueses brancos". Sendo que esta diferença releva menos do facto de não terem "motivação e força de vontade para melhorar a sua vida", do que de causas externas ligadas à discriminação. De salientar que o escalão de rendimento mensal mais baixo, até 90 contos, surge significativamente mais frequentado entre a população negra (23 por cento) do que entre a população lisboeta (6 por cento), sucedendo o inverso com os escalões mais elevados.
No entanto, mais grave ainda, no entender dos jovens negros, do que a privação económica, salarial, é o sentimento de discriminação institucional - ligado à forma como negros e brancos são tratados nos estabelecimentos de saúde, nas escolas, nos tribunais, etc. Pelo que o relatório faz notar: "Este resultado poderá ser importante no desenho de políticas sociais, que muitas vezes se orientam apenas para o bem-estar económico e esquecem o sentimento de injustiça e frustração que decorre da percepção de discriminação no relacionamento institucional."
O sentimento de privação salarial relativamente aos brancos é "mais abertamente expresso pelos que têm uma situação económica objectivamente pior, e por aqueles que vivem há mais tempo em Portugal". Já a privação institucional é mais forte entre os que têm menores rendimentos e entre os que não se encontram legalizados.
Outro dos dados que revela uma grande insatisfação tem que ver com o facto de apenas dois dos inquiridos terem considerado que os portugueses brancos se referem a eles como "portugueses". Para a maioria (177 dos 400), a sociedade branca identifica-os sobretudo com a categoria "preto", palavra que é amplamente sentida como sendo pejorativa, ou como sendo "negro/ou de raça negra" (56 dos 400). "Quando os jovens negros sentem que são considerados diferentes não sentem que esta diferença é objecto de uma avaliação pública positiva, mas sim que esta diferença é um estigma", conclui o estudo.
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Agradecimentos a quem aqui trouxe o artigo: https://www.publico.pt/2002/05/18/sociedade/noticia/jovens-negros-rejeitam-sociedade-portuguesa-143737

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Que o investigador diga estar surpreendido com os dados do estudo só confirma o autismo reinante no seio da elite político-cultural dominante no Ocidente - esta gente não tem a menor ideia do que é a «rua», por assim dizer. Não percebe que há aqui uma convergência, por um lado, do ressentimento anti-colonialista, vindo de África, com a culpabilização do branco e a militância «anti-racista» de SOS Racismos e de rappers negros.
É e sempre foi má ideia constituir uma sociedade multirracial - e em todo o Ocidente actual a coisa corre mal, não é só em Portugal. Aliás, até na Índia há problemas com os imigrantes negros, na China idem, tal como em Israel. Nas Arábias, desconheço, e se calhar não se sabe porque aí o negro que levantar a grimpa leva logo no focinho ou é expulso e acabou, não há ali espaço para se armar cagaçal «anti-racista»...
Basicamente, a notícia é boa - atesta que as águas continuam devidamente separadas, pelo que um retorno em massa dos Africanos à proveniência deverá ser facilitado por ambas as partes... de resto, mesmo que se sentissem portugueses, isso de modo algum significaria que o fossem, bem entendido...

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Escapou-te o facto de que esse artigo mete em causa o principal dogma dos anti-racistas que é que os negros nascidos em Portugal sentem-se portugueses e que por isso são tão portugueses quanto os outros.



BTW, publica.acclaim

30 de março de 2017 às 13:56:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Não tenho cá nada para publicar.

O que dizes não está mal de todo, mas facilmente se torna numa armadilha. De hoje para amanhã arranjam um novo estudo, à laia de quem quer inspeccionar o estado da coisa quinze anos depois, e «eis que houve uma evolução extraordinária e agora a maioria dos jovens negros já quer ser portuguesa!» A questão não é o sentirem-se, a questão é o serem e, de facto, não o são, pelo que ainda bem que assim não se sentem...

30 de março de 2017 às 21:29:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Nesta thread não, noutra sim.

Quantos mais negros tivermos cá, menos os gajos se sentirão portugueses.acclaim

30 de março de 2017 às 22:43:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Noutro tópico também não há nada teu por publicar.

Talvez eles se sintam menos portugueses se proliferarem por cá, sim. Não aposto nisso, de qualquer modo, nem isso é, repito, o mais importante.

31 de março de 2017 às 00:42:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Não acho que é pelo fato de não se sentirem portugueses que os tirará de lá. Se percebeste, muitos nasceram em Portugal. E se lhes perguntassem quantos voltaram a seus países (os nascidos fora de Portugal) provavelmente nenhum gostaria de ir a Angola ou Cabo Verde.
Os problema não é ou não eles se sentirem portugueses. Eu não me importo se eles se sentirem portugueses, mas se sentirem assim em Africa.
O problema é eles ainda estarem em Portugal ainda, e não eles não se sentirem portugueses.

5 de abril de 2017 às 17:09:00 WEST  

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