sexta-feira, outubro 21, 2016

FOI O ESTADO E AS EMPRESAS QUE VIVERAM ACIMA DAS SUAS POSSIBILIDADES, NÃO AS FAMÍLIAS

As famílias poupam pouco e têm dívidas, mas sempre viveram de acordo com as suas possibilidades. Dados estatísticos dos últimos 20 anos, divulgados pelo Banco de Portugal, mostram que o Estado e as empresas é que estiveram quase sempre em défice.
Portugal financiou-se durante quase duas décadas à custa de dívida contraída no exterior, mas as famílias foram o único sector da economia que nunca viveu “acima das suas possibilidades” - a frase foi usada em 2011 pelo anterior primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e pelo anterior Presidente, Cavaco Silva, para convencer os Portugueses de que não havia alternativa à austeridade.
As Contas Nacionais Financeiras dos últimos 20 anos (1995-2015), hoje divulgadas pelo Banco de Portugal, mostram que foram as empresas não financeiras e, sobretudo, o Estado, os grandes responsáveis pelas necessidades de financiamento entre 1996 e 2011 que levaram o País a pedir dinheiro emprestado no exterior, aumentando a dívida pública e privada.
Em 2008, o nosso défice externo atingiu um valor máximo de 10,9% do PIB mas, com o resgate internacional, Portugal começou a registar, a partir de 2012, excedentes em relação ao resto do mundo. Em 2015, esses excedentes - que correspondem ao saldo conjunto das balanças corrente e de capital – representaram cerca de 1,7% do PIB (3 mil milhões de euros). No final do ano, esse valor deverá ser descer para 1,3%.
Nas duas últimas décadas, as famílias apresentaram sempre capacidade de financiamento, apesar de pouparem pouco e de contraírem dívidas - como se pode ver no gráfico. Contudo, depois de um aumento entre 2009 e 2013, os excedentes da família começaram também a diminuir. Em 2015 baixaram para 1% do PIB e, no final do primeiro semestre deste ano, desceram para 0,8% do PIB – um valor que, na zona euro, é superior, representando 3,4% do PIB. Esta tendência coincide com o aumento do consumo pós-troika (sobretudo de bens duradouros, como casas e carros) e também com a subida da carga fiscal sobre os particulares, conduzindo assim a uma menor poupança – a taxa ronda os 4%, um nível historicamente baixo em Portugal.
O Estado é que foi sempre deficitário nestas duas décadas, apesar da melhoria registada a partir de 2011. Ainda assim, o défice de financiamento das administrações públicas era de 3,4% do PIB no final do primeiro semestre. Já as empresas tiveram altos e baixos, não necessitando de financiamento externo em apenas cinco dos 20 anos analisados - 1995, 1996, 2013, 2014 e 2015. O maior contributo para a evolução positiva da capacidade de financiamento da economia depois de 2012 veio, precisamente, das empresas não financeiras – que, nos últimos anos, pouparam em vez de investirem, como seria expectável.
Os bancos, devido à sua função de intermediação financeira, mostraram maior capacidade de financiamento, à excepção dos anos em que o Estado teve de injectar capital ou salvar instituições – BPN em 2010, CGD em 2012, BES em 2014 e Banif em 2015.
As Contas Nacionais Financeiras do Banco de Portugal registam as operações financeiras, ao nível dos stocks e fluxos, entre os vários sectores da economia: particulares (famílias e instituições sem fins lucrativos), sociedades financeiras (bancos), sociedades não financeiras (empresas) e administrações públicas (Estado).
ECONOMIA PORTUGUESA - CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO
As famílias mantiveram-se sempre à tona, O Estado e as empresas é que contraíram dívida para pagar o nosso défice com o exterior.
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Fonte: http://visao.sapo.pt/actualidade/economia/2016-10-20-Afinal-o-Estado-e-as-empresas-e-que-andaram-a-viver-acima-das-nossas-possibilidades---nao-as-familias   (Artigo originariamente redigido sob o acordo ortográfico de 1990 mas corrigido aqui à luz da ortografia portuguesa.)

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Andou muito povinho de cabeça baixa, a aguentar a «austeridade», como que assumindo uma culpa que era sobretudo dos mais abastados... mais abastados estes que, para cúmulo da vergonha, foram os que menos se deixaram afectar pela dita «austeridade».
Quanto ao que disse o anterior primeiro-ministro, fica a dúvida se quando disse «estamos a viver acima das nossas possibilidades» estava a falar de todo o Povo ou simplesmente dele e seus comparsas da elite reinante. Só se lhe pode dar o benefício da dúvida se se partir do princípio que é autista e não tem nem ideia de como é viver com o ordenado mínimo em Portugal...