segunda-feira, agosto 22, 2016

AINDA SOBRE O «BURKINI» NA EUROPA

O uso deste fato de banho [burkini] que cobre o corpo todo com excepção das mãos, cara e pés, foi proibido por decretos municipais em três localidades – Cannes e Villeneuve-Loubet, na Côte d’Azur, e em Sisco, na Córsega. Outros municípios do país, designadamente na costa do norte da França, anunciaram o desejo de tomarem medidas idênticas contra o burkini, nome que vem da combinação das palavras burka e biquíni.
O debate provoca tensão devido às recentes chacinas e atentados, mas a polémica agravou-se depois de, no sábado passado, se ter verificado uma violenta rixa em Sisco, na ilha da Córsega, entre famílias de origem magrebina e outros residentes da localidade hostis ao burkini, que algumas mulheres muçulmanas vestiam nesse dia numa praia junto a essa localidade. Os confrontos provocaram cinco feridos e três dos carros das famílias muçulmanas foram incendiados.
Este incidente, que começou porque alegadamente alguns corsos faziam fotos das mulheres muçulmanas em burkini, continua a agitar seriamente a vida na Córsega. Esta quinta-feira, dia de uma audiência no tribunal da capital, Bastia, para julgar alguns dos suspeitos de envolvimento nos incidentes, decorreu uma manifestação de apoio aos corsos que contestam o que chamam ser “um fato de banho islamita”. Já no domingo passado tinha sido organizada uma manifestação no centro da cidade em que se gritaram palavras de ordem como “às armas”, “vamos vingar-nos”, “esta terra é nossa”. Um dos bairros da cidade onde vivem muitas famílias magrebinas teve se ser protegido pelas forças de segurança.

NACIONALISTAS AMEAÇAM RADICAIS ISLÂMICOS
Não é a primeira vez que se verificam incidentes violentos contra os árabes nesta ilha do Mediterrâneo, onde designadamente mesquitas têm sido regularmente atacadas. Um dos movimentos nacionalistas clandestinos da ilha – o chamado “FLNC de 22 de Outubro” - emitiu um comunicado, em Julho, pouco depois do massacre em Nice no dia 14 desse mês, em que avisava os “islamitas radicais” que “qualquer ataque deles contra os corsos levaria a uma resposta firme e imediata” da parte da organização armada. “Sabemos quem vocês são, a resposta será taco a taco e sem compaixão”, lia-se no comunicado.
Esta polémica sobre o uso do burkini também está a agitar Paris e todas as famílias políticas francesas porque os decretos de proibição foram aprovados por uma câmara socialista e duas de Direita. O primeiro-ministro, Manuel Valls, saiu a apoiar as decisões dos municípios – “o uso do burkini não é compatível com os valores da França e da República”, disse o chefe do Governo. “As praias, tal como todos os espaços públicos, devem ser preservadas de reivindicações religiosas”, acrescentou Manuel Valls.
No entanto, a medida é contestada por associações de defesa dos direitos do homem e movimentos contra o desenvolvimento da islamofobia e um comentador disse que as autoridades “não podem impedir as mulheres de tomarem banho vestidas”. Pelo seu lado, Jean-Pierre Chevènement, figura histórica dos socialistas franceses, recentemente indigitado pelo presidente François Hollande para presidir à “Fundação do Islão de França” considerou que deve ser respeitada liberdade em conjugação com “a defesa da ordem pública”. “As pessoas são livres de tomarem banho vestidas ou não”, acrescentou o antigo ministro do Interior.
Os apelos à calma sucedem-se em França e associações próximas dos muçulmanos dizem que se trata de mais um passo do sentido da sua estigmatização. Outras pessoas dizem, pelo contrário, que além da referência a uma religião, o burkini é igualmente um ataque à dignidade das mulheres. “O burkini não é uma nova linha da moda nas praias, é uma versão da burka e tem a mesma lógica porque se destina a esconder o corpo das mulheres para que possam ser controladas”, afirmou Laurence Rossignol, ministra dos Direitos da Mulher.
Em Cannes já foram multadas (38 euros) três mulheres por usarem esse fato de banho. O decreto nesta conhecida estância balnear especifica que “o acesso às praias e ao banho é proibido a qualquer pessoa que não esteja vestido de forma correta, respeitadora dos bons costumes, da laicidade e das regras da higiene”.

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Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: http://expresso.sapo.pt/internacional/2016-08-19-Burkini-um-caso-que-se-descontrolou

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Começando por um exemplo no mesmo espírito, pode-se dizer que houve uma razão óbvia para que na China as autoridades tivessem em 2012 obrigado os lojistas da província islamizada de Xinjiang a venderem bebidas alcoólicas, «se calhar» porque doutro modo a pressão social islamista os impediria de as venderem... De igual modo, houve uma razão óbvia para que na Turquia laica se tivesse proibido o uso da burca no funcionalismo público - e houve uma razão óbvia para que os laicos protestassem quando o governo de Erdogan resolveu «autorizar» o uso da burca nas universidades: a hoste laica turca percebeu que a partir do momento em que não haja uma lei estatal a proibir o uso da burca, as mulheres passam a não ter defesa contra a pressão comunitária islamizante para que andem tapadinhas à maneira muçulmana. Contrasta nisso com os que andam tapadinhos à maneira politicamente correcta, que não vêem por isso o significado das «liberdades» muçulmanas, que mais não são do que imposições.